O Elenco

          Depois de um ano de processo, entre seis meses de laboratório - experimentando os "Temas" que desejamos discutir com esta montagem e como abordá-los - o elenco se renovou, alguns atores e atrizes saíram, outros entraram, outros permaneceram, mas sem dúvida, todos mudaram e evoluíram, construindo suas personagens e criando seus papéis. A encenação, por diversos fatores, não se preocupou especialmente com as características étnicas ou etárias para a vinculação entre ator-personagem, ainda que à medida do possível isso tenha sido considerado. Agora, às vésperas da estréia, apresentamos nesta página esses 18 atores que compõem o espetáculo e o que cada um deles sente em relação às suas personagens.

Tiago D'avila
(John Proctor)

          Para mim John Proctor é a representação do homem comum, cru. Um homem com questões, mas que apesar das dúvidas e dos erros é bom. Proctor, assim como um gladiador, acaba sendo dilacerado para o divertimento de poucos. Ele é um guerreiro! Anônimo, e lutador, como muitos brasileiros espalhados por todo esse país. John Proctor é um homem comum com virtudes e defeitos e por isso mesmo é um verdadeiro herói.

Stefanie Bulgari
(Abigail Williams)

          Criar um personagem como Abigail é desafiador para o trabalho de uma atriz porque oferece diversas possibilidades de personalidade que se alternam na trama dando um material muito amplo para trabalhar as nuances, assim como muitos estados emocionais e corporais.

Paula Sholl
(Elizabeth Proctor)

          Para mim Elizabeth Proctor é um desafio no sentido mais amplo da palavra. Não é nada fácil 'ser' uma mulher de uma coragem absurda e ao mesmo tempo de uma fraqueza e de uma sutileza que comovem. Através dela, agora eu sei o verdadeiro significado da palavra integridade.

Marcelo Carpenttiere
(Rev. Hale)

          Um personagem como o Reverendo John Hale, com todas as mudanças pelas quais passa, suas variações dramáticas, seu orgulho e desespero, é um desafio ímpar, sem dúvida. Um prato delicioso para um ator degustar. Para mim, é um presente maravilhoso.

Amanda Grimaldi
(Mary Warren)

          Interpretar a personagem Mary Warren é uma experiência sufocante e dolorida. A partir do Laboratório, onde experimentamos os temas que sentimos a necessidade de discutir com esse texto, percebi que Mary Warren sofre forte Manipulação e Intolerância por parte das outras personagens o que a leva a um estado de histeria exacerbado. A dialética entre a pouca idade da personagem e o peso da carga dramática necessária para dar conta de sua interpretação é o maior desafio deste papel.

Nilson Nunes
(Rev. Parris)

          A dubiedade, o medo, o fanatismo e a culpa presentes em Samuel Parris constituem um belo e desafiador exercício de interpretação.

Gloria Diniz
(Tituba)

          Tituba é uma personagem instigante por conta de sua própria história, e do que dela é sabido. Não obstante os fortes traços característicos de sua cultura original, a sua relação com todas as outras personagens é amplamente aberta e rica em possibilidades para a criação de seu papel. Com uma idiossincrasia peculiar, Tituba exige o riso largo e o desespero copioso, um leque de emoções que transpassam e transbordam do corpo. Tituba é a própria natureza! Para uma atriz, representá-la é um desafio para o corpo num turbilhão de emoções.

Gláu Massoni
(Ann Putnam)

          Ann Putnan é uma mulher forte, porém sofrida que briga com os fantasmas da culpa que sente pela perda de sete filhas e por fazer com que a única filha viva descubra quem realmente assassinou suas irmãs, assim conseguirá provar ao mundo e a si mesma que não tem culpa. A carga emocional e o caráter dessa mulher são algumas das muitas possibilidades que me são oferecidas para trabalhar. Esta personagem me direciona à situações pouco cotidianas, como a histeria e o desequilíbrio, e torná-las críveis é um grande exercício cênico para mim enquanto atriz.

Fred DeMarca
(Thomas Putnam)

          Para Thomas Putnam todo ser humano é hipócrita e a sociedade podre por essência. Riqueza e poder lhe regem como suas únicas verdades absolutas. Se realmente existir; que Deus o julgue, ninguém mais.

Aléxia Gusmão
(Ruth Putnam)

          Fazer a Ruth Putnam é, para mim, uma crise de identidade instaurada  no meu trabalho. É uma personagem que pouco aparece, fisicamente, durante a peça, porém sempre citada, fazendo-se necessário que eu me fizesse presente todo o tempo como Ruth, porém na coxia; este distanciamento fisico permitiu-me, ainda, experimentar outras personagens, quando seus respectivos atores não podiam estar presentes durante os ensaios.

Roberta Preussler
(Betty Parris)

          Fazer a Betty resgata memórias da minha infância. As crianças tem a facilidade de aumentar e não compreender seus medos. Ao pesquisar a personagem percebi que era necessário cautela em cada decisão, já que ela está em um momento muito delicado e que traz comportamentos e reações imprevisíveis. Interpretar a Betty está me trazendo um maior amadurecimento como atriz. Através do processo estou descobrindo novas ferramentas e novos possibilidades para meu trabalho. A Betty é um trauma a cada noite.

Rafael Dellamora
(Juiz Danforth)

          O Danforth, pra mim, é como várias figuras de poder da história, sempre determinado a manter sua reputação a qualquer custo, então o desafio de interpretá-lo é o conflito interno que a trama da peça propõe ao personagem.

Phellipe Azevedo
(Juiz Hathorne)

          Cada momento de criação da personagem 'Juiz John Hathorne' tem sido um grande quebra-cabeça, a cada dia descubro uma peça deste mistério.

Raphael Marins
(Ezekiel Cheever)

          Interpretar Ezekiel Cheever é redescobrir motivações e sensações em uma personagem paradoxal que forneça ferramentas para lapidar cada vez mais as técnicas de atuação.

Luciano Zidawa
(Giles Corey)

          Giles Corey é um grande presente para um ator. Homem justo, honesto e tão curioso que mesmo apesar da idade avançada, acaba sendo ingênuo. Sua curiosidade, ao fim, lhe custa muito caro.

Rafaela Motta
(Mercy Lewis)

          Mercy Lewis é audaciosa, inconsequente, um pouco maldosa e imatura. Tudo isso a deixa totalmente fora do senso de responsabilidade acerca dos acontecimentos nos quais ela está envolvida. Sem noção da gravidade das consequências geradas, ela não se entrega ao raciocínio, deixando-se levar pelo êxtase e pelo entorpecimento da atmosfera lúdica na qual ela se propõe a ficar, divertindo-se a todo momento com esse jogo de mentiras.

Cecília Barçante
(Susanna Walcott)

          Susanna Walcott é uma personagem criada em cima de indícios do texto e na relação com os outros. Teme a forca e o chicote mas é facilmente manipulada por Abigail e seu pai. A soberania obtida por uma suposta santificação a toma e a agrada. Ela crê na histeria coletiva que vive e no poder que isso lhe dá, aos poucos acredita na própria superioridade.

Rita Malm
(Rebecca Nurse)

          Rebecca Nurse é uma mulher forte que está sempre em busca do equilíbrio pessoal e social. A sua maturidade e a experiência de vida a torna capaz de estabelecer com as pessoas uma relação de respeito. A transparência de seus valores e princípios estabelecem, de forma sólida, a sua reputação dentro da sociedade. É instigante trabalhar uma personagem que busca ser um pilar de tranquilidade num mundo caótico.