domingo, 10 de julho de 2011

Observações de um espectador

NOTAS DE UM MÚSICO VIVO

          O sentimento humano, é por sí só oque de mais verdadeiro existe em nós, por um instante que seja, ele não pode ser interpretado, deve ser sentido, e apenas será passado ao outro se sentirmos em nós tal força arrebatadora.
          A angustia de ser verdadeiro consigo mesmo, a verdade crua ao encarar a realidade de peito aberto, o desespero de ver tudo ruir e mesmo assim manter firmes os pés no chão da convicção interna de nossa verdade interior, por maior que seja a tentação, manter o carácter de seu eu. Nada vale, nada no mundo vale mais do que termos a consciência tranquila de sermos sinceros com nós mesmos.

Para mim a peça, ou a história, ou a mensagem, se divide em 2 coisas basicamente,
1-Os sentimentos e as verdades em questão;
2-A realidade visceral como são tratadas essas emoções.

          Uma coisa é ter noção de cada sensação à qual está relacionado um sentimento na vida, outra coisa é conseguir reproduzir esse sentimento em uma história, na verdade, reproduzir simplesmente o palco da vida, na vida que está no palco.
          Portanto elenco e produção estão de parabéns por conseguirem isso, em praticamente todo momento, com raras exceções, e o diretor Rogério Rasées está de parabéns por conseguir ter a clareza de passar esses estados de espirito ao elenco, pois se não há clareza no que se deseja, não há em hipótese alguma, clareza no que se interpreta, e consequentemente, acabasse interpretando algo que deveria ser real, ser um eco do que existe dentro de cada um de nós.
          A história é muito forte e densa, não por se tratar de emoções pesadas, mas por conseguir tratar destas emoções de forma real, pois independentemente da natureza do sentimento, oque importa é a compatibilidade com a realidade, a veracidade dos sentimentos tratados, tanto no nível do texto literário, no nível da adaptação cênica, quanto no nível da entrega verdadeira de cada um.
          Estou falando de sentir a dor ao perder um filho, o desespero de estar cercado pela conspiração do poder e nada poder fazer, da dor de ver as forças atuando na vida, e por não compreende-las de todo, não conseguir mudar-lhes o rumo. Estou falando do desespero que é ver onde quase todos são cegos, e lutar praticamente sozinho contra o vício dos seres humanos pela dor alheia, pelo egoísmo cego de se satisfazer. Estou falando de realmente sentir a dor no peito quando se dá o último adeus àquele que vai para a forca, para morte. Estou falando de realmente sentir a paz de no último segundo de vida ao ter a certeza de estar correto consigo mesmo.
          O mundo não precisaria mais de guerras e sofrimentos, se escutássemos das artes e dos artistas os sentimentos que transmitem. Mas enquanto não houver sensibilidade o bastante, -tanto para o artista quanto para o não-artista-, o mundo precisará ainda aprender na marra, infelizmente. Pois tudo está em todos, e todos nós estamos em tudo, e quando sentirmos isso de verdade em nós mesmos, que somos uma só coisa, poderemos dar o próximo passo.

          Parabéns a todos, e muito grato pela experiência de sentir! Abraços a todos vocês e tudo de bom sempre!

Ayran Nicodemo